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O Modelo Agarthino


Embora estejamos tratando aqui de tal forma com o território da História, é fato que muita coisa sobre a cidade sagrada pertence à lenda e ao mito, assim como à profecia -hajam vistos os elos entre a idéia da cidade mítica e simbólica, com certos personagens divinos.

Comumente, a lenda se confunde com a História, como é o caso de Quetzalcóatl e sua Tula, ou Huitizolopochtli e sua Tenochtitlan. Trata-se de cidades reais, que têm na sua base um personagem mítico que pode ter existido na sua fundação, e ainda antes. Em outros casos, as cidades são lendárias -o que não significa que não possam ter existido, como é o caso de Tróia, tida por muito tempo por lenda, mas que terminou por ser encontrada –aliás, com muitas capas de história acumulada.

Assim como as raças e as culturas desenvolvem os seus padrões de arquitetura, também existem alguns conceitos tradicionais e canônicos envolvendo geografia e urbanismo. O tema geográfico está focalizado pela expressão vastu mandala, isto é, o tabuleiro geográfico determinado sob métrica condizente com os cânones raciais, em temos de região, natureza, alcance e assim por diante. Este é o tema do Livro II deste Volume, dedicada ao mito universal de Vaikuntha.

A questão urbanística também estaria condicionada a certa métrica simbólica, seja na cidade em si, seja através de redes integradas de cidades, chamadas hoje de “sistemas geográficos de evolução”.

A cidade de Krishna, por exemplo, chamada Dwarika, tinha oito portas. Já a Jerusalém celeste do Apocalipse, assim como a Vaikuntha hindu e a Tushita budista, aparecem com doze portas. Esta diferença refletiria uma evolução, assim como uma distinção entre raças-raízes distintas.*
Da mesma forma, as redes urbanas tendem a se modificar, talvez obedecendo aos mesmos padrões. Bem conhecido é o conceito agarthino. Agartha é um reino “intraterreno” que envolveria sete cidades místicas, centralizadas por uma oitava cidade sagrada chamada Shambala, tal como abaixo se representa acima o Reino de Agartha e Shamballa, ao centro.

Observando o desenho ou tanka tibetano delineado, vemos também na parte inferior da gravura, um aglomerado específico de doze vilas. Ora, a partir disto, todo este esquema passa a se identificar com a estrutura de outro esquema tibetano chamado Bhavachakra, a “Roda da Vida”, vista como descrição das causas e das possibilidades dos ciclos de reencarnação humana. Todas estas estruturas complexas se dividem através da conhecida fórmula cabalista 3-7-12, que é a mesma divisão das letras hebraicas na Cabala. Por isto o grande Pitágoras afirmou que, “no final, tudo se resume a 3, 7, 12.” Afinal, a própria geometria favorece para definir um esquema afim.

Trata-se, pois, de uma organização geográfica natural, hierarquizado em função da próprio distanciamento do núcleo divino, cuja tríade pode ser definida também como Palácio, Templo e Escola. Comumente, representações trinas da central Shambala, são de alguma forma visíveis nos tankas tibetanos.

Inspirados pela S. B. Eubiose, sociedade esotérica brasileira que trabalha ostensivamente com a Geografia sagrada, convencionamos dividir o tema em três esferas assim definidas (no setor “12”, a SBE usa o termo egípcio, quiçá equivalente, “Duat”):

Valor Centro Núcleo Atividade Energia
“3” ....... Shambala .......... Divindade .......... Palácio .......... 1º Raio
“7” ...... Agartha .............. Hierarquia ......... Templo ......... 2º Raio
“12” .... Vaikuntha .......... Humanidade ...... Escola ........... 3º Raio

Percebe-se daí, que desmembramos já os atributos trinos inicialmente dados à Shambala. Vale dizer que, tratando-se tudo isto de uma tríade, é preciso haver em cada esfera todos os princípios, ainda que sujeitos a uma necessária especialização.
Não terá passado despercebido ao cabalista Saint Yves d’Alveydre, um dos grandes divulgadores da lenda de Agartha, a profunda ilação cabalística da estrutura. Razão pela qual o criador do Arqueômetro descreveu Agartha nestes termos, ou mesmo em torno do valor 22:
“Em certas regiões do Himalaya, entre 22 Templos que representam os 22 Arcanos de Hermes e as 22 letras de certos Alfabetos Sagrados, Agartha forma o Zero Místico, o impossível de encontrar. O território sagrado de Agartha é independente, sinarquicamente organizado e composto de uma população que se eleva a um número perto de vinte milhões de almas” (em “A Missão da Índia”).

Assim, haveria uma aplicação social também, numa cosmologia que, noutros termos, tende a ser mais reconhecida em relação ao processo individual. E como todo o resto, a demografia acima apresentada (“vinte milhões de almas”), também deve ser tratada em termos paradigmáticos. Por ora, digamos que combina com o restante dos cânones duais que envolvem a Agartha d’alveydriana, de contornos atlantes.

Finalmente, existe um regime especial em Agartha, que é o da Sinarquia, que transcende a política convencional e contempla uma Triarquia de governantes sagrados que atendem os setores da Ciência, da Justiça e da Economia, como base para o conjunto das instituições. No caso, a Sinarquia ou a Governo trino, estaria relacionado ao núcleo de Shambala, reunindo Palácio, Templo e Escola.

Talvez por não alimentar maiores aspirações palacianas, a citada S. B. Eubiose se auto-define, por sua vez, pela tríade “Templo, Teatro e Escola”. Não raro, a Arte é em si realmente disposta como um Princípio. A rigor, porém, a idéia da Arte (da qual o teatro é apenas uma rama) também pode ficar diluída no restante, como forma de “didática” a ser oferecida por cada aspecto de atividade social, o que na área política pode ser a propaganda, na área templar será a doutrinação, e na área escolar será o ensino corrente. Sabe-se que o teatro em si, nasceu na Grécia através da “diluição” da atividade do sacerdócio, já dentro no contexto republicano materialista.

Em certos contextos, talvez o teatro tenha adquirido uma importância especial, e até sido considerado um “arte maior”. No geral, porém, devemos pensar é no grande “Teatro da vida”, que os hindus também chamam de Lila (“brincadeira”) ou mahalila, o grande jogo divino da vida. Do qual tratamos adiante no Capítulo “A Tradição da Mandala Geográfica” e, ainda mais sistematicamente, no livro acerca dos mitos edênicos, intitulado “Vaikuntha – o Cumprimento das Profecias”.

Uma realidade cíclica

De fato, uma curiosidade a respeito do reino de Agartha, seria a sua descrição “intraterrena” por parte alguns célebres autores -muito embora a iconografia budista pareça sugerir um caráter meramente geográfico interior. René Guenon também parece preferir ver a questão de forma simbólica, relacionada ao estado de ocultação dos Altos Mistérios e das coisas sagradas no decurso do Kali Yuga -ou, de outra forma, como uma situação apenas provisória, estando Agartha destinada a se revelar ao mundo no momento oportuno. Diz ele em sua célebre obra O Rei do Mundo (Capítulo VIII):

“Agartha, se diz, não foi sempre subterrânea, e não permaneceria sempre assim; haverá um tempo em que, segundo as palavras dadas por M. Ossendowski, os povos de Agartha sairão de suas cavernas e aparecerão sobre a superfície da terra.** Antes de seu desaparecimento de mundo visível, este centro levava outro nome, pois o de Agartha, que significa inalcançável ou inacessível (e também inviolável, pois é a morada da Paz, Salém), não haveria sido o mais conveniente; M. Ossendowski precisa que se fez subterrâneo faz mais de seis mil anos, e ocorre que esta data corresponde, com suficiente aproximação, ao começo do Kali-Yuga, ou época negra, a idade de ferro dos antigos ocidentais, o último dos quatro períodos nos quais se divide o Manvantara;*** sua reaparição deve coincidir com o fim do mesmo período.

Importa saber aqui, que a citada Idade de Ferro, iniciada ao final da última glaciação segundo F. A. Ossendowski (em “Bestas, Homens e Deuses”), está atualmente terminando em todos os principais calendários raciais, e ao que Guenón parece endossar em seus escritos. A nova revelação de Agartha seria, segundo esta profecia, uma questão iminente. Prossigamos, daí:
“Temos falado anteriormente das alusões feitas por todas as tradições a algo que se acha perdido ou escondido, e que se representa sob diversos símbolos; isto, quando se toma em seu sentido geral, o que concerne ao conjunto da humanidade terrena, se refere precisamente às condições do Kali- Yuga. O período atual é uma fase de obscurantismo e de confusão;**** suas condições são tais que, enquanto persistam, o conhecimento iniciático deve necessariamente ficar oculto, daí o caráter de ‘Mistérios’ da Antiguidade dita ‘histórica’ (que não remonta mais que até o começo deste período)***** e das organizações secretas de todos os povos; organizações que atribuem uma Iniciação efetiva, ali onde subsiste ainda uma verdadeira doutrina tradicional, mas que não oferecem mais que a sombra quando o espírito da doutrina deixou de vivificar os símbolos que não são mais que a representação exterior, e isto porque, por diversos motivos, toda a ligação consciente com o centro espiritual do mundo acabou por ser rompida, o que é o sentido mais particular da perda da tradição, aquele que diz respeito especialmente a este ou àquele centro secundário, deixando de estar em relação direta e efetiva com o centro supremo.”

Ora, é preciso compreender que o “espírito da Tradição” é uma realidade supra-humana, e que a rigor apenas pode ser fielmente administrado através de seres iluminados pertencentes a hierarquias acima da humana. Todo um conjunto de símbolos e estruturas de conhecimento, assim como instituições, foi outorgado sob este espírito à humanidade no começo do citado período, e sua perda resulta inevitavelmente na adoção de uma casca vazia ou da caricatura particularizada e não raro demoníaca, destas instituições sagradas e universais. É o que observamos claramente em nossos dias, inclusive já sob desesperadas formas de revisionismo e negação, que deixa, todavia, igualmente um grande vazio num campo aberto a experimentações não raro também perigosas, embora até certo ponto necessárias. O furto do fogo divino por Prometeu não foi sem perigos, e sua liberação dependeu da intervenção de um verdadeiro iniciado que foi Hércules. Resta ainda ver que a humanidade necessitou deste personagem especial e abnegado para ter acesso ao fogo divino, prefigurando aquele centro dos “Amigos dos Homens” que é Shambala.

O ser humano comum não está capacitado a compreender a sutileza de certas concepções, muito embora a Ciência moderna já aponte para elas em muitas de suas vertentes. Prova disto, está na última nota (de número “5”) acima citada, demonstrando a incapacidade corrente de assimilar certos conceitos, especialmente durante as Idades materialistas da humanidade, que são as de Bronze e de Ferro.

A assimilação do conteúdo ontológico do símbolo, por exemplo, é coisa por demais refinada, e enquanto isto o ser humano permanece em níveis inferiores de compreensão, mesmo alcançando elevar-se muitas vezes acima do fetichismo materialista e da idolatria, alcançando assim certo grau de subjetivismo (“psicologia”), mas dificilmente mais do que isto, o que ainda é pouco para a realização de sínteses quintessenciais. Não obstante, se supõe que o ser humano esteja “tecnicamente” preparado para enfrentar a Cruz espiritual, uma vez que se instaura em nossos tempos a quarta raça humana (através da Sexta Raça-raiz). Esta conquista apenas surgirá na esteira de grandes elevações de consciência, práticas esotéricas intensas e enobrecimento d’alma –sob o pano-de-fundo da crise planetária, porquanto esta representa um grau de altas provações-, uma vez que implica no próprio alcance da iluminação real (quarta iniciação).
O caráter cíclico de Agartha, significa que este centro apenas pode ser realmente conhecido, quando a própria humanidade admite o papel orientador de Deus nas instituições, o que sucede mais comumente sob o respaldo das classes superiores, ou seja: nas teocracias e nas monarquias. Quando Agartha e Shambala se manifestam, temos o fenômeno maior da História, que é a manifestação do reino de Deus ou do paraíso terreno, com todo o seu significado de primordialidade ou de refundação cultural.

Com relação aos significados da palavra Agartha, que Guenón explana a partir das descrições do conde de Saint Yves d‘Alveydre em A Missão da Índia, podemos dizer que Agartha é “inalcançável” porque sua dimensão espiritual é única; é “inacessível” porque sua expressão é sutil em demasia para os sentidos humanos correntes, e é também “inviolável” porque é coeterna com Deus mesmo, o Absoluto.

O Projeto-Exodus, emanado diretamente por aquele Centro primordial, Shambala, visa conduzir nos próximos anos um grupo de iniciados através desta “Terra Ardente” (simbolizada pelo deserto espiritual em que permaneceu o povo hebreu sob a guia de Moisés), assim como a organizar centros secundários no país, tal como o próprio reino de Agartha, que está constituído por um agrupamento de centros místicos. Trata-se, portanto, de uma orientação do Governo Paralelo do Mundo, cujo caráter extra-oficial não deve ser confundido com nenhuma espécie de “anarquismo”, muito embora na superfície das coisas possa às vezes assim aparentar.

Da obra "As Cidades da Luz", Luís A. W. Salvi, Editorial Agartha

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Notas:

* Anadimos que esta transformação canônica, foi arquitetonicamente prevista em plena vigência da cultura pré-cortesiana, através das “duas Tulas” toltecas. A primeira, de Xochicalco, com seu “Templo dos Guerreiros” e suas Oito Colunas sagradas, e a segunda, de Chichén Itzá, com seu “Templo de Mil Colunas” e suas Doze Colunas sagradas - ver a nossa trilogia “A Tradição Tolteca”, a este respeito.
** “Estas palavras são aquelas pelas quais termina uma profecia que o ‘Rei do Mundo’ teria feito em 1890, quando apareceu no mosteiro de Narabanchi.”
*** “O Manvantara ou Era de um Manu, chamado também Maha-Yuga, compreende quatro Yugas ou períodos secundários: Krita-Yuga (ou Satya-Yuga), Treta-Yuga, Dwapara-Yuga e Kali Yuga, que se identificam respectivamente com a ‘idade de ouro’, a ‘idade de prata’, a ‘idade de bronze’ e a ‘idade de ferro’ da antiguidade greco-latina. Na sucessão destes períodos há uma espécie de materialização progressiva, resultante do afastamento do Princípio que acompanha necessariamente o desenvolvimento da manifestação cíclica, no mundo corporal, a partir do ‘estado primordial’”.

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